Operação Cassandra

A Operação Cassandra: ação conjunta da Polícia Federal e da Receita Federal do Brasil, com Europol e apoio da polícia irlandesa, mirou uma rede transnacional de tráfico de mulheres, com coerção, controle e lavagem de dinheiro. O caso evidencia o papel da cooperação internacional e de técnicas digitais de investigação.

Por Redação Keruv

9 set 2025

Por que “Cassandra”

Na mitologia grega, Cassandra, filha de Príamo e Hécuba, era irmã do valente Heitor que morreu bravamente em combate contra Aquiles. Ela foi uma das princesas de Troia e, desde seu nascimento foi abençoada com o dom de ver o futuro. Porém, ela sofria da maldição de ninguém acreditar em suas previsões.

“Complexo de Cassandra”, para a Psicologia, é a condição angustiante de uma pessoa ter certeza sobre determinada situação ou fato, e não gozar de credibilidade e aceitação social para que sua opinião seja considerada pela coletividade.

Ação conjunta e países envolvidos

Cassandra foi, por essa curiosa razão, o nome escolhido para a exitosa operação desencadeada pelas Polícia Federal e Receita Federal do Brasil, em conjunto com a Europol, e com o apoio da Garda National Protective Services Bureau, da Irlanda. Naquele país, a operação chamou-se Rhyolite, nome de uma rocha vulcânica. Provavelmente, a denominação foi escolhida dentre a sequência de codinomes da biblioteca do computador da polícia.

Crimes investigados e lavagem de dinheiro

Ambas as operações miravam uma organização criminosa especializada no tráfico internacional de mulheres para exploração sexual, e foram deflagradas na quarta-feira, 03 de setembro.

Além da exploração sexual, a organização praticava crimes de lavagem de dinheiro, contra o sistema financeiro nacional e crimes tributários. Para disfarçar e movimentar os lucros ilegais, utilizava diversos mecanismos de lavagem de dinheiro, fraudes documentais e práticas financeiras ilícitas.

Até o momento, foram identificadas setenta vítimas em quatorze países, todas submetidas a forte controle e à submissão forçada, manipulação psicológica, coerção econômica e ameaças por homens violentos.

O dinheiro arrecadado no encontro com o cliente era dividido da seguinte maneira: a organização ficava com metade e, a garota, com a outra parte, da qual eram debitados os gastos com hospedagem, alimentação, higiene íntima, medicamentos e lavação de roupas.

Os bandidos que administravam a vida das mulheres na Irlanda eram cruéis, e faziam provocações para estimular a competitividade entre as cativas. Documento da investigação expõe troca de mensagens entre uma das vítimas e o suspeito de liderar o esquema: com jornadas exaustivas, a mulher mencionou cansaço. Em resposta, o homem disse que uma colega dela realizava mais de 13 programas por dia “sem reclamar”.

Oportuno comentar que as mensagens eram trocadas pelo conhecido aplicativo WhatsApp, tido por todos os usuários como “seguro com criptografia de ponta a ponta”; entretanto, a polícia da Irlanda conseguiu obter o espelhamento das mensagens originais sem a necessidade de apreensão do aparelho do suspeito investigado, o que aponta para uma infiltração digital utilizada por agências estatais de Contraespionagem, provavelmente autorizada pelas autoridades judiciais de um país onde o terrorismo não é apenas uma ameaça distante.

A investigação coletou ainda que as vítimas são jovens e de baixas condições financeiras. Elas viajaram para a Europa já sabendo das condições do “esquema”, mas chegavam ao país de destino e percebiam que eram longe das prometidas.

A investigação também apurou que os programas sexuais eram agendados pelos integrantes da organização, os quais controlavam os aparelhos celulares das vítimas usados para intermediar os atendimentos. As mulheres não tinham decisão sobre o número de atendimentos, horários ou tipo de clientes.

Conforme o relato de uma delas, em Dublin eram divididas em casas controladas pela organização, forçadas a trabalhar até 18 horas por dia.

“Às vezes, ficávamos 24 horas sem dormir. A privação de sono e o cansaço eram a pior parte. Também tinha agressão verbal. Se a gente fazia alguma coisa errada, ele [chefe da organização] gritava”, disse.

A mulher contou que ganhou bastante dinheiro, mas não suportou a rotina abusiva. “Algumas meninas iam embora. Mas, uma semana depois, chegavam mais”.

Cooperação internacional: posição do MJSP

Para a coordenadora-geral de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes do MJSP, Marina Bernardes: “A operação mostra a relevância da articulação internacional no combate a esse tipo de crime. Essa operação demonstra, mais uma vez, a importância da cooperação internacional no enfrentamento ao tráfico de pessoas, um crime que não conhece fronteiras e exige respostas articuladas entre países. Do ponto de vista da política nacional, a operação reforça o compromisso do Brasil em proteger as vítimas do crime e responsabilizar organizações criminosas que atuam de forma transnacional”, afirmou.

Reconhecimento às forças policiais

É importante reconhecer os esforços das forças policiais na repressão ao Tráfico Humano. Policiais vocacionados(as) muitas vezes deixam suas famílias de lado para se dedicarem às investigações sigilosas em locais afastados de suas bases e correndo toda a sorte de riscos. Muitas mulheres policiais – e civis voluntárias – fazem dessa luta a razão de suas vidas e não são reconhecidas, e a essas lutadoras e lutadores enviamos nossa profunda admiração.

Uma coincidência e um alerta final

A cara leitora e o caro leitor certamente se lembram que, nos dois primeiros parágrafos deste modesto texto apoiado nas fontes listadas ao final, expliquei a origem do nome da operação: Cassandra. Pois bem, algumas pessoas dizem que coincidências não existem, porém, recordam-se que o pai de Cassandra, na Mitologia, chamava-se Príamo, cuja tradução do idioma helênico é “Resgatado”.

Tudo isso é um alerta às pessoas incautas que, apesar das previsões, continuam apostando na sorte e escolhendo destino incerto – algumas são encontradas e a vida lhes oferece outra chance. De muitas outras, infelizmente, nunca mais ouviremos falar.

Obrigado por sua leitura.
Fiquem com Deus.

Professor Coronel Moretzsohn
Especialista em Inteligência e Contrainteligência
Integrante do Instituto Keruv

Fontes consultadas:

britannica.com

Agencia.gov

G1

CNN Brasil

Este texto foi escrito por:

“Voluntários reunidos na Comunidade K-Base para ações de prevenção e busca.”

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